rua
Capítulo 3: Quebrando os copos na parede
Desde o inicio a Amanda foi o personagem que mais nos deu trabalho. Possivelmente por ser o primeiro que criamos e por ter vindo tão fechado, quase alguém que encontramos na rua e reparamos todos os detalhes: as roupas do trabalho, as unhas mal feitas, o cabelo despenteado. Por conta disso, apesar de ter surgido antes, o último convite de ator que fizemos foi para representar Amanda. Quando pensamos que não havia mais jeito, depois de passarmos por diversas possibilidades de atrizes, alguém surgiu com a Analu e não teve volta: era ela o tempo todo. Quando convidamos Analu e contamos a ela sobre o personagem ela disse: sou eu o tempo todo. E foi.
Diferente do Zé e do Miguel, Amanda sente a cidade em todas as suas dimensões. Ela trabalha no centro e convive diariamente com o caos das ruas, com as confusões dos carros, com a correria do horário de almoço, com o almoço fora do horário. Essa confusão se reflete também na forma como ela age e pensa (ou não?).
Do outro lado há a casa: um espaço de fuga de toda a impessoalidade das ruas. Entretanto, agora os meninos estão com uma visita – e não é qualquer visita. Seu único espaço de estabilidade de uma hora pra outra perde essa referência. Inclusive sua festa de aniversário, que estava marcada para acontecer no apartamento, tem de ser cancelada (imagina se alguém descobre que o Marx está lá). E também é impossível trazer todos os amigos quando Karl Marx está lá, afinal, não existe festa sem bebida, sem gritos, sem quebrar os copos na parede.