
No nosso primeiro dia de gravações trabalhamos a relação do Miguel com a cidade. O personagem volta pra casa e se depara com a rua. Ao contrário da casa, a cidade não respeita a dimensão do privado. Durante todo o dia é cortada por milhões de passos. Nada é de ninguém. As pichações não têm dono. As pichações falam de coisas que a gente não entende. Mas são. A cidade é o lugar do efêmero, do transitório. A gente não fica, a gente passa. Mas fica.
Certa vez, li uma pichação que dizia: “quantas cidades tenho em mim?”. E esse é o caminho.
Os carros, os viadutos, as construções de concreto. Qual é a nossa relação com a cidade? Como eu ando por essa cidade? O que dela é meu e o que meu é dela?



A forma como Miguel interage com a cidade, mesmo sendo desinteressado voltando pra casa, é importante para percebermos a maneira como ele a enxerga. Ou melhor, como eles se relacionam.
Por que ruas ele passa? Com quais pessoas ele cruza? De onde vem e para onde ele vai?


